domingo, 27 de março de 2016

Gesto Morto * Antonio Cabral Filho - RJ

Gesto Morto
-pixabay-
*
Parti em busca do verso exato
e cruzei planícies drummondianas,
cidades baudelaireanas,
avenidas picasseanas,
prédios kafkeanos,
salas vitorianas
e fartei-me
de red
und
â
ncias
existenciais
até esgotar-se a paciência
e aportar-me na turbulência
maiakovskiana
com o verso atrás das barricadas
planando sobre os bombardeios
insuflando massas à revolução
com discursos de tratores
vestindo calças de nuvens
ou trajando apenas 
uma gravata amarela
mas vanguardeando proletários
sob as ordens de Lila Brick
sem jamais nem somenos com Lênin
e seu exército vermelho
tudo
por um amor visceral

... tudo tão visceral
como quixote do fim dos tempos
sem rocinante nem espada de vento
jamais com verso sem face humana
e forma de entranhas expostas

... tão visceral quanto Dante
rondando hospitais de guerra
colhendo imagens para seus versos
até arder incandescentemente
n'algum canto de seu próprio inferno
ou como o braço 
do último lobo dos mares
com seu gesto congelado no ar
pela flecha do verbo inimigo
que cruzou o espaço rumo ao seu peito
como este buscando a margem da página

... e se derivei por mundos ignotos
em busca do metro exato
mesmo tendo cometido verso roto
dou-me agora direito e rogo
de rolar na areia da praia
abraçado com meu verso nato.

*

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